quinta-feira, 13 de outubro de 2016

O Tempo...

Revendo bakups antigos me deparei com este texto que o Luiz Stephanou escreveu pra mim lá pelos idos de 2005... E não é que o tempo é relativo mesmo...

O Tempo.
Luis Stephanou

            Recentemente, de forma completamente acidental, deparei-me com algumas bijouterias de Raquel Tessari. Não conhecia seu trabalho. Trata-se de uma “remontagem” de velhos relógios de pulso, já sem função, agora transformados em braceletes, colares, brincos, pingentes, anéis e pulseiras.

            Senti certa nostalgia, sem melancolia, ao contemplar aqueles relógios desmontados, destruídos e destituídos de sua função de medir o tempo. A medição do tempo só existe quando o aprisionamos em códigos; quando o lemos através de máquinas que construímos para medi-lo. Máquinas que nunca param (não deveriam) de funcionar. Lembrei de meu avô, relojoeiro, em sua oficina “arrumando o tempo”.

            Os relógios de Raquel Tessari não medem o tempo. Eles embelezam os corpos. De uma forma diferente, ele também nos fazem lembrar que o tempo age sobre nossos corpos. O tempo pode ser uma possibilidade de destruição; mas também pode ser uma alternativa de beleza, de construção.

            Estes estranhos e bonitos relógios não medem o tempo, mas nos permitem algo maior: sentir o tempo.

            Sentir é reler o tempo. Raquel Tessari abre a possibilidade de “enxergarmos” o tempo a partir de outros parâmetros. Podemos nos despojar dos instrumentos que medem e controlam nossas vidas. Não precisamos nos prender às vestimentas do que se encontra instituído. Podemos subverter o tempo ao transformar relógios em belos adornos. Podemos ver nossas vidas com outros significados, a partir de outra lógica. Não é necessário que nossos corpos estejam encerrados à tirania do tempo; aquele tempo que enxergamos como decadência. Há uma poesia, uma liberdade que somente pode ser conquistada com o esforço de nossa imaginação - com o suor das almas de quem não se transformou em máquina.

            Sentir o tempo é, também, reler o mundo. Quando consigo enxergar poesia nos mecanismos que antes mediam nossos instantes nesse mundo, também consigo enxergar possibilidades de transformar o mundo. O trabalho de Raquel me faz pensar nisso: ao “ver” o tempo com outros olhos, também vejo os seres vivos no mundo,com outra condição. Mais livres; vivendo com mais amor.

Estes relógios desfigurados parecem nos perguntar: há outro tempo, outra vida em nossos corpos? Parece que nos desafiam a dizer que sim! Recordei de uma poesia de Pablo Neruda, “Enigma dos intranqüilos”:

“Pelos dias do ano que virá
encontrarei uma hora diferente,
uma hora nunca mais transcorrida,
como se o tempo se rompesse ali
e abrisse uma janela: um buraco
por onde deslizar-nos até o fundo.

Bom, aquele dia com aquela hora
chegará e deixará tudo mudado:
não se saberá jamais se ontem foi-se
ou o que volta é o que não se passou.

Quando o relógio cair uma hora
ao solo, sem que ninguém a recolha,
e ao fim tenhamos amarrado o tempo,
ou onde terminam os destinos,
porque no trecho morto ou apagado
veremos a matéria das horas
como se vê a pata de um inseto.

E disporemos de um poder satânico:
voltar atrás ou acelerar as horas,
chegar ao nascimento ou à morte
com um motor roubado ao infinito.”

           
            A beleza e o amor triunfam sobre o tempo. Podemos roubar um motor ao infinito. É o que Raquel Tessari nos diz. Será que temos condições de entender esta grande lição?

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Retomando bijus.

Voltando a dar energia às bijuterias de flores e material reaproveitado. Em breve com site para venda direta, aviso por aqui com certeza, aguardem... Por enquanto posto aqui um gostinho das novidades.